Qual foi o primeiro foguete da história?

Assim como muitos outros feitos da humanidade, classificar o pioneirismo de uma invenção pode ser mais complicado do que parece. O troféu de primeiro foguete da história pode ir para diferentes mãos dependendo do critério utilizado para análise.

Se pensarmos nos primeiros dispositivos chineses utilizados com propósitos de guerra, daríamos o título a uma invenção criada no século XIII. Mas, para os propósitos deste texto, vou focar nos foguetes que tinham o próposito direto ou indireto de chegar no espaço.

Konstantin Tsiolkovsky e a proposta de exploração espacial

No final do século XIX e começo do século XX, inspirado pelos livros de Jules Verne, um russo chamado Konstantin Tsiolkovsky (1857-1935) propôs a ideia de usar foguetes para explorar o espaço. Mesmo sendo apenas um professor autodidata, Konstantin chegou à conclusões importantíssimas que o levaram a ser chamado de “pai da astronáutica moderna” junto com outras figuras importantes.

Konstantin Tsiolkovsky

Ele foi o primeiro a derivar a equação que descreve o movimento dos foguetes – a hoje chamada Equação do Foguete de Tsiolkovski. Ela relaciona a mudança de velocidade, velocidade de exaustão dos gases e as massas iniciais e finais do foguete.

Além disso, ele também calculou a velocidade horizontal mínima requirida para uma órbita ao redor do planeta e como isso poderia ser alcançado com a ajuda de um foguete multi-estágios.

Os experimentos de Robert Goddard

No começo do século XX, o americano Robert Goddard (1882-1945) realizou diversos experimentos para testar a capacidade de foguetes em atingir altitudes que balões não poderiam atingir.

Seus primeiros testes envolveram o uso de foguetes de combustível sólido. Depois, o engenheiro começou a experimentar com propelentes líquidos, acreditando que seriam mais eficientes ao desempenhar seu papel.

O primeiro foguete de combustível líquido do mundo, criado por Robert Goddard, voou pela primeira vez em 16 de Março de 1926, sendo movido a oxigênio líquido e gasolina. O aparato curioso voou por apenas 2 segundos e meio, chegando a modestos 12.5 metros de altura.

Robert H. Goddard com o primeiro foguete movido a combustível líquido

Goddard continuou desenvolvendo seus protótipos e fazendo cada vez mais progressos. Começou a colocar instrumentos de medição com propósitos científicos nos foguetes, como barômetros e termômetros, além de desenvolver um sistema de paraquedas para recuperar os equipamentos.

Seu trabalho gerou avanços importantíssimos para os engenheiros que mais tarde fariam estudos tão importantes para o desenvolvimento de novas tecnologias. Goddard criou dispostivos de controle giroscópico, direcionamento por gimbals, bombas de combustível e muito mais.

O primeiro foguete a cruzar a linha de Kármán

O foguete alemão V-2 foi o primeiro foguete a cruzar a linha de Kármán (100 km de altitude). Usando um motor movido à propelentes líquidos (álcool e oxigênio líquido), a criação de Werner von Braun alcançou este marco durante um teste em Junho de 1944.

Foguete V-2

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os americanos capturaram dezenas de foguetes V-2 e começaram a testá-lo. E em 24 de Outubro de 1946, ao invés de carregar explosivos, um destes foguetes lançado de White Sands, no Novo México, levou a 106 km de altura uma câmera, que tirou a primeira fotografia da Terra do espaço.

Mas, apesar dos feitos impressionantes, o V-2 não foi um veículo criado especificamente para ir ao espaço – ele era um míssil balístico guiado de longa distância.

O primeiro foguete criado para ir ao espaço

Depois dos testes e pequisa com os foguetes V-2 capturados durante a Segunda Guerra, os Estados Unidos precisavam de um novo veículo para continuar desbravando este novo território do conhecimento.

Para resolver esse problema, a empresa Reaction Motors Inc (RMI) recebeu o financiamento necessário da marinha para desenvolver o que se tornariam os foguetes Viking.

Lançamento do foguete Viking 4 em 11 de Maio de 1950

Diferentemente do V-2, o Viking era feito de alumínio e tinha o propósito único de carregar instrumentos científicos para altitudes extremas.

Em 11 de Maio de 1950, o Viking Nº4 se tornou o primeiro foguete criado para ir ao espaço a ultrapassar a Linha de Kármán, chegando a 168 km de altura.

O primeiro foguete a colocar algo em órbita

Todos os foguetes anteriores conquistaram marcos impressionantes, mas se estivermos falando do primeiro a colocar algo em órbita, estamos falando da Rússia.

Lançamento do Sputinik 1, o primeiro satélite artificial do mundo, a bordo do foguete R-7

O R-7, desenvolvido durante a Guerra Fria pelos soviéticos, foi o primeiro foguete a colocar algo em órbita. Em 4 de Outubro de 1957, o foguete incendiou seus motores e iniciou a subida, carregando o Spunik 1, o primeiro satélite artificial do mundo.

Quando Robert Goddard propôs que um foguete poderia colocar algo na superfície da Lua, o New York Times o desdenhou. Disseram que a noção de um foguete produzindo empuxo no vácuo do espaço, sem ar algum para ser empurrado, era totalmente absurda. Goddard respondeu dizendo:

Toda visão é uma piada até que o primeiro homem a realize; Uma vez realizado, torna-se comum.

Robert Goddard

As contribuições de Goddard foram importantes o suficiente para que Buzz Aldrin levasse para a Lua uma versão em miniatura da autobiografia do visionário. O livro, com um tamanho próximo ao de um cartão de crédito, foi dado à esposa de Goddard, Esther Goddar.

Como mencionado no começo do texto, definir pioneiros nem sempre é tão simples quanto parece. Tsiolkovsky, Goddard, Oberth, Von Braun e muitos outros engenheiros e cientistas trouxeram avanços importantíssimos para a exploração espacial. Suas contribuições jamais devem ser esquecidas não só pelos amantes da exploração espacial, mas também por todos que desfrutam dos benefícios advindos dela.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *