Está agendado para esta quinta feira (21) o lançamento de um Falcon 9 com 3 cargas diferentes. Uma delas, chamada de Beresheet (hebreu para “Gênese”), é criação da SpaceIL, uma organização israelense sem fins lucrativos fundada por Yariv Bash, Kfir Damari e Yonatan Winetraub para a competição internacional Google Lunar XPRIZE, que premiaria o time que conseguisse pousar uma nave não tripulada na lua.
A competição oficial terminou em março de 2018 sem nenhum vencedor. Mas a SpaceIL, uma das finalistas da competição, não se deu por vencida e continuou com a missão.
As regras da competição eram bem diretas. U$20 milhões para o primeiro time privado que:
- Pousasse um robô na lua
- Fizesse ele andar mais de 500 metros
- Transmitisse imagens em alta definição da Lua de volta para a Terra
O segundo colocado na competição receberia U$5 milhões. Outros desafios complementares, como visitar um local de pouso das missões Apollo, também garantiam prêmios.
Apesar dessa corrida espacial do século XXI não ter dado tão certo quanto o esperado, muito se discutiu sobre a importância da atuação privada em missões como essas. Bastante dinheiro foi arrecadado e mais de um time se comprometeu a terminar as tarefas mesmo depois do término da competição.
Israel será o quarto país a alcançar a lua

Além de ter sido quase que exclusivamente financiado por dinheiro privado (só U$2 milhões dos $90 milhões do custo da missão foram financiados pelo governo israelense), o Beresheet colocará o país na curta lista de nações que conseguiram pousar na Lua.
Isso é extremamente significativo para a exploração espacial mundial. Afinal, pousar na lua é uma tarefa extremamente cara e que até agora só foi possível graças aos grandes orçamentos governamentais de países como Rússia, Estados Unidos e China.
Graças a empresas dedicadas a reduzir os custos de lançamentos e às “caronas” espaciais que lançamentos maiores costumam dar para pequenas cargas, colocar algo em órbita ou na superfície da lua é muito mais acessível atualmente.
O Beresheet vai demorar 2 meses para chegar na lua
Diferente das missões Apollo que demoravam mais ou menos 3 dias para chegarem ao nosso satélite natural, o Beresheet vai levar 2 meses para completar sua jornada.
Depois de ser lançado às 8:45 pm Eastern Time, a espaçonave vai ser entregue em uma órbita elíptica ao redor da Terra com uma altitude máxima de mais de 60 mil km. Quando chegar em seu ponto mais baixo e de maior velocidade, seu motores serão acionados por alguns segundos, aumentando a altura máxima da órbita.

Depois de fazer essa manobra algumas vezes, a altitude máxima atingida será de 400 mil km. Alto o suficiente para realizar outra manobra e fazer a espaçonave ser pega pela gravidade lunar em uma nova órbita elíptica com uma altitude entre 290 km e 10 mil km.
Depois de dar algumas voltas ao redor da lua, a espaçonave vai realizar outra manobra, se colocando agora em uma órbita circular de mais ou menos 250 km de altitude. Aí é só ligar os motores e reduzir a velocidade horizontal de aproximadamente 6 mil km/h para 0.
Explicação detalhada e visual da missão | Vídeo: SpaceIL
A 5 metros do chão a espaçonave desligará seus motores e cairá em queda livre. O impacto dessa queda é absorvido pelas 4 pernas do lander, que possuem um material em alumínio com o formato de favos de abelha, que se amassam com o impacto da seguinte maneira:

A navezinha é bastante modesta. Tem apenas 1 metro e meio de altura, 2 metros de largura e quase 600 kg (dos quais praticamente 3/4 são de combustível). A bordo do Beresheet há câmeras de alta definição e um magnetômetro, que fará leituras do campo magnético lunar, transmitindo imagens e dados para o nosso Planeta.
As outras cargas da “carona espacial”
A carga principal do lançamento é o satélite de comunicação Nusantara Satu (PSN-6), que com quase 5 toneladas, vai prover comunicações de voz e internet para ilhas da Indonésia, melhorando bastante a infraestrutura da região.

O outro ocupante da carona é o mirradinho microsat S5 da Força Aérea Americana, com apenas 60 kg, que tem como objetivo verificar a possibilidade de uso de pequenos satélites em órbitas geoestacionárias.
O que tem de mais nisso tudo?
A missão do Beresheet não é nada muito incrível do ponto de vista científico. Magnetômetros foram enviados para a lua durante as missões Apollo. Não há tanta informação para ser garimpada de uma missão do tipo que já não tenha sido anteriormente.
Mas além do prestígio nacional de Israel e incentivo à busca por carreiras de ciência e tecnologia no país, esse é um passo importante para a indústria aeroespacial, que verá no sucesso dessa missão possibilidades de lançamentos em missões mais complexas com custos reduzidos.
Estamos falando de espaço. Um orçamento de U$90 milhões é dinheiro de pinga se comparado aos grandes programas de nações como Estados Unidos e Rússia que em suas empreitadas gastam bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento.
Sem falar nas especulações correndo no Cabo Canaveral sobre a possível utilização de um booster pela terceira vez. Se isso se mostrar verdadeiro teremos: um lançamento com 3 cargas diferentes – duas para órbitas geoestacionárias e uma para um pouso na lua. Tudo isso com um Falcon 9 que já foi utilizado duas vezes. Absolutamente incrível.
Vídeo de promoção do lançamento | Vídeo: SpaceIL
Israel vai para a lua! E isso é ótimo para todo o mundo.